Casarão no Flamengo renasce aos 90 anos
terça-feira, 2 de outubro de 2012Em 15 de julho de 1922, ao som da Orquestra Sinfônica do Country Club do Rio de Janeiro, era inaugurado, no Flamengo, o Hotel Balneário Sete de Setembro. Instalado na Avenida Rui Barbosa, o suntuoso empreendimento pretendia valorizar o litoral carioca e indicar a vocação da região para abrigar habitações de alto luxo. No fim de semana, 90 anos depois, convidados do Casa Cor 2012, evento de decoração que abre para o grande público na quarta-feira, circularam pelos quatro mil metros quadrados do edifício de arquitetura eclética ao som de música eletrônica contemporânea — faixas do recém-lançado álbum da banda inglesa The XX, raridade até para os mais descolados.
Na 22ª edição da mostra, as organizadoras Patrícia Meyer e Patrícia Quentel dizem que o maior desafio foi integrar as propostas vanguardistas dos arquitetos ao projeto original do prédio, tombado pelo Instituto Estadual de Patrimônio Histórico e Cultural em 1989.
— Foi um trabalho minucioso, pois o casarão estava com ar soturno, cheio de morcegos. Além disso, foi, por um longo período, usado como refúgio de mendigos — revela Patrícia Meyer.
Como acontece todos anos, as Patrícias iniciaram sua pesquisa de imóvel ao final da edição passada. Para avaliar se o prédio da Rui Barbosa suportaria um evento da grandiosidade do Casa Cor — onde cerca de 80 arquitetos transformam ambientes aplicando pisos, pintando paredes, instalando luminárias, trocando plantas e trazendo móveis —, contaram com os critérios do implantador Mario Santos.
— Apesar do receio, vislumbramos o potencial do empreendimento, que foi criado para hospedar. Tem uma circulação típica de condomínio, com apartamentos espaçosos, pés-direitos que chegam a quatro metros e uma agradável área comum — diz Patrícia Meyer. — No entanto, depois de 17 anos fechado, a maresia havia danificado instalações, e cupins enfraqueceram a madeira. Foi preciso reforçar a estrutura.
Depois de consultar três construtoras, Santos avaliou que o imóvel era estável, embora precisasse de benfeitorias. Em seguida, começou a analisar o que deveria permanecer intacto.
— Não deixamos que mexessem em portais e janelas, nem que derrubassem paredes. A proposta foi fazer interferências harmônicas — diz.
Construído pelo italiano Antonio Jannuzzi para abrigar o Hotel Balneário Sete de Setembro, o mítico edifício foi erguido em apenas 14 meses. A intenção era acomodar os ilustres hóspedes que viriam ao estado do Rio de Janeiro prestigiar a Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil. Muito audacioso, o hotel fracassou, fechando as portas em novembro de 1922. Dois anos depois, o prédio foi desmembrado, e as acomodações principais, onde o Casa Cor será realizado, passaram a acolher o hospital infantil Abrigo Arthur Bernardes. De 1926 a 1973, o imóvel foi cedido para o internato da Escola de Enfermagem Anna Nery.
O arquiteto Fábio Bouillet tem íntima ligação com esse último período: sua mãe, a enfermeira Teresinha de Jesus, morou no casarão por cinco anos.
— Ela chegou do Pará em 1953 e ficou hospedada como estudante — relembra ele.
Convidado pelo Casa Cor para criar, com o sócio Rodrigo Jorge, o Estúdio Hight-Tech do Casa Cor, Bouillet pediu para construir seu projeto em um dos cômodos em que sua mãe morara.
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